Complexo da Companhia Empório Industrial do Norte
Fachada do edifício principal do conjunto da fábrica. Fonte: Aline de Carvalho (2011)
Implantação: A fábrica da companhia, localizada na Boa Viagem, foi construída em um terreno alagadiço, havendo a necessidade de sanear previamente o local (canalização de nascentes para um grande reservatório) e de construir um grande e profundo muro aos fundos. Os engenheiros que participaram da construção da fábrica e da vila operária foram Augusto Weilemann e Augusto Frederico de Lacerda. A fábrica tinha o seu próprio ancoradouro, com um cais de 240 metros de extensão e 840 metros cúbicos de alvenaria, de onde partia uma ponte de 150 metros de comprimento e 3,65 metros de largura, construída com madeira de lei. Uma linha de trilhos estendia-se da ponte até as dependências da fábrica (SAMPAIO, 1915). O edifício principal da fábrica foi construído em uma área de 21.600 m2, ocupando o terreno retangular completamente adjacente ao mar. Ao outro lado da rua foram construídos outros volumes isolados (retangulares) em um terreno também retangular, porém os edifícios não preenchem completamente o lote (um deles era um edifício para depósito de algodão, cujo projeto, de 1896, foi encontrado no AHMS). A A Vila Operária era composta de oito blocos de casas dispostos paralelamente, ocupando uma área de 21.476 m2, com “[...] 258 casas residenciais, com dois pavimentos, além do gabinete médico, farmácia, loja, creche, e açougue e armazém que funcionavam em regime cooperativo” (SAMPAIO, 1975, p. 86). Estes equipamentos estavam dispostos ao redor de uma praça com 1.500 m2 com dois coretos e uma estátua de Luiz Tarquínio. As ruas da vila eram cimentadas, planas e com ligeiros declives, para facilitar o escoamento de água. A escola apresentava dois pavimentos, funcionando o jardim da infância, o grupo escolar, o salão de ginástica e a biblioteca no térreo e o curso noturno, salão para desenho e sala para creche no primeiro andar. Fora da vila, voltadas para a Av. Luiz Tarquínio, também existiam casas para serem oferecidas gratuitamente aos operários que tiveram 10 anos de bons serviços e comportamento. Foram encontrados projetos, dos anos de 1902 e 1903) para a construção de pelo menos cinco casas térreas. Ainda são encontradas três dessas casas e duas destas tiveram suas esquadrias trocadas.
A Companhia Empório Industrial do Norte foi fundada em 14 de março de 1891 pelo comerciante de tecidos Luiz Tarquínio, Leopoldo José da Silva e Miguel Francisco Rodrigues de Moraes (SAMPAIO, 1975). A fábrica também ficou conhecida como Fábrica da Boa Viagem ou Fábrica de Luiz Tarquínio. Desde seu surgimento, a Empório se apresentou como a maior indústria têxtil da Bahia, com maior número de teares (899), operários (697) e produção. Esta empresa se tornou a maior do Norte e Nordeste e uma das maiores do país (ALMICO, BAIARDI, SARAIVA, 2008). Além da sua grande fábrica, a Empório foi responsável pela construção, em 1892, de uma das maiores vilas operárias do Brasil naquele momento. Esta foi, possivelmente, a primeira vila operária a ser construída no Brasil (muitos consideram a Vila Maria Zélia a primeira, porém esta, construída entre os anos de 1911 e 1916, é muito posterior àquela). A fábrica e a vila operária foram construídas nas roças do Visconde de São Clemente de Bastos, português, importador de vinhos e conservas (VALVERDE, 2002). Em 1910 a empresa estava entre as três maiores do Nordeste e as onze maiores do Brasil (SAMPAIO, 1975). Em 1913 a companhia, montada com maquinismos modernos, possuía 1.300 teares e empregava 1.600 operários. Após a Primeira Guerra Mundial a fábrica, assim como as outras do ramo têxtil, entrou em crise, devido à grande quantidade de produtos armazenados sem saída no mercado, já que o preço da matéria prima havia despencado após a guerra, havendo queda no preço dos produtos, não encontrando correspondência nos preços de seus produtos colocados no mercado. Instalou-se naquele momento uma situação de subemprego e compressão salarial que perdurou até maio de 1919, quando os negócios em geral foram reativados, iniciando-se um novo ciclo de prosperidade para o setor (CASTELUCCI, 2005). A partir desse ano até 1928 a companhia obteve índices de lucro bastante elevados. Após 1928 a concorrência entre as fábricas nacionais aguçou-se, sendo esta uma característica importante na vida das indústrias têxteis dos anos trinta. Em 1945 a companhia ainda era uma das 16 maiores empresas do país e uma das 5 do Norte-Nordeste. A década de 1950 foi bastante desfavorável para a empresa, que obteve baixos lucros, devido aos altos custos da matéria-prima, dos salários dos funcionários e do maquinário, além da estagnação do mercado (SAMPAIO, 1975). Em princípios dos anos 1960 a companhia pediu um financiamento ao Banco do Nordeste do Brasil para aquisição de maquinário e modernização da fábrica, porém, a partir de 1963 a empresa entrou em crise permanente, fator que forçou a sua venda. A Companhia foi vendida em 1973 para o grupo Atlântico Sul – Comércio Exportação e Importação S.A. (SAMPAIO, 1975). Hoje os edifícios da fábrica são ocupados pela EADI Empório - Companhia Empório de Armazéns Gerais Alfandegados, que armazena containers, tendo um tráfego intenso de caminhões. Em sua dissertação “Evolução de uma Empresa no Contexto da Industrialização Brasileira: A Companhia Empório Industrial do Norte (1891-1973)”, Sampaio (1975) destrincha a história da Companhia Empório Industrial do Norte, sendo uma referência fundamental para qualquer estudo sobre a companhia.
Hoje as edificações da vila encontram-se bastante descaracterizadas. As casas sofreram diversas reformas e não são identificados com facilidade os edifícios destinados aos serviços, com exceção da escola, que fica de frente para a praça, onde se encontra a estátua de Luiz Tarquínio. No Anexo 3 de sua dissertação, Sampaio (1975) apresenta a descrição da Vila Operária, onde aborda materiais e técnicas construtivas.
ALMICO, Rita; BAIARDI, Amílcar; SARAIVA, Luiz Fernando. Gênese e Transformação das empresas regionais: O Recôncavo Baiano. Recôncavos, v. 1, p. 77-92, 2008. Disponível em:
Sem informação.
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Implantação. Fonte: Google Earth (2012).
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Fachada do edifício principal do conjunto da fábrica. Fonte: Aline de Carvalho (2011)
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Edifícios da vila operária voltados para a Av. Luiz Tarquínio. Fonte: Aline de Carvalho (2011)
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Vista do conjunto a partir da Av. Luiz Tarquínio. Fonte: Aline de Carvalho (2012)
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Casas da vila operária voltadas para a Escola e a Praça do conjunto. Fonte: Aline de Carvalho (2012)
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Escola voltada para a praça da vila operária. Fonte: Aline de Carvalho (2012)
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Praça, em primeiro plano, e casas da vila operária, ao fundo. Fonte: Aline de Carvalho (2012)
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Fachada do edifício do lado oposto ao conjunto da fábrica. Fonte: Aline de Carvalho (2012)
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Fundos do edifício principal do conjunto da fábrica. Fonte: Aline de Carvalho (2011)
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Vista do conjunto a partir da Av. Luiz Tarquínio. Fonte: Aline de Carvalho (2011)